segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Altruísmo ou egoísmo? Eis que ambos estão na questão


Você acha que o ser humano é egoísta por natureza ou altruísta por natureza? Essa é uma discussão muito antiga que remonta Rousseau e seu “bom selvagem”, em que o ser humano era tido como bom por natureza e a sociedade o corrompia. Mas como vamos ver o ser humano não é tão simplista assim. Não nascemos equipados só com predisposições cognitivas pró-sociais ou só com anti-sociais, mas sim com ambas predisposições. Somos ricamente equipados com estratégias sociais mistas.

Nossas predisposições cognitivas pró ou anti-sociais são manifestadas segundo características do contexto social em que nos encontramos. Conhecer as pessoas do seu meio social, confiar nelas, reencontrá-las de tempos em tempos são algumas das condições muito importantes para a evolução do altruísmo recíproco, ou seja, a cooperação com não parentes.


Pesquisadores brasileiros de Psicologia Evolucionista investigando essa questão encontraram que outra característica relevante na escolha de atitudes pró ou anti-sociais é o tamanho do grupo social. Em artigo publicado no periódico Evolution and Human Behavior 29 (2008) 42–48, que está disponível junto com outros artigos nacionais no site do Projeto Milênio de Psicologia Evolucionista, Anuska Alencar, José Siqueira e Maria Emilia Yamamoto, investigaram a cooperação em crianças.

Segundo a professora Dra. Emilia Yamamoto, “tentamos entender como é a cooperação do ponto de vista evolutivo, ou seja, quais atitudes das crianças são dirigidas a um benefício comum, e quais revelam certo egoísmo.” E pra fazer isso é só criar um engenhoso jogo envolvendo chocolate em que colocava as crianças em posição de doar algum para que o benefício comum aumente ou não doar nada em prol apenas do benefício individual. Isso em grupos pequenos e grandes de crianças.

Eles encontraram que no grupo pequeno as atitudes pró-sociais foram mais comuns, pois a possibilidade de monitorar indiretamente o comportamento dos colegas era maior. Já no grupo grande as doações diminuíam bastante, segundo ela “revelando que o egoísmo prevalece quando o indivíduo não percebe um ambiente propício para a cooperação”. Entra em jogo então o raciocínio que acaba rapidamente com os recursos naturais: se é de todo mundo então não é de ninguém e se eu não aproveitar muito agora outros o farão já já.

É interessante lembrar que a superpopulação não é um problema só da China, mas sim do planeta Terra. E que as conseqüências prejudiciais da superpopulação não são só ambientais mais também anti-sociais. Os estudiosos da evolução do comportamento humano apontam que o tamanho da tribo humana ancestral girava em torno de 200 pessoas, algo muito longe do tamanho das cidades atuais.

Uma versão resumida escrita e em áudio do presente trabalho pode ser encontrada no novíssimo site de divulgação científica da UNESP: o Toque da Ciência, destinado à divulgação da produção científica brasileira por meio de uma linguagem simples e atraente, com periodicidade diária e contando com um acervo de mais de cem programas. Toque da Ciência têm formato de PODCAST disponibilizando áudios de um minuto e meio de duração, com o relato do processo de pesquisa pelo próprio pesquisador, aproximando público e cientista e tornando eficaz a comunicação e os fins da divulgação científica.
Um bom exemplo de altruísmo com o conhecimento científico e cooperação com a sociedade.

2 comentários:

Caio Mariani disse...

O altruísmo na verdade tem como fundo o instinto de sobrevivência da espécie como um todo. Os indivíduos que ajudavam os outros, que formavam grupos unidos tinham maior chance de sobrevivência e transmitiam o prazer em ajudar o próximo, ou seja, o indivíduo que ajuda o outro sente prazer nesse ação e a repete. Entre animais, muitas vezes o altruísta realmente se sacrifica pelo grupo, é aquele macaco que se expõe aos predadores para desviar a atenção enquanto o resto do grupo foge. O grupo que possui mais indivíduos como este tende a ter maior chance sobrevivência. Então, apesar de não ter uma vantagem adaptativa individual, esse indivíduo altruista tem menores chances de se reproduzir do que os outros dentro do grupo, por isso são poucos, mas os grupos que proporcionam maiores chances deste se reproduzir sobrevivem mais que os outros grupos.

Porém isso acontece quando temos muitos recursos, espaços, quando não há muita competição, nesse caso há uma maior união, se analisarmos as sociedades primitivas percebemos isso de maneira clara. Porém com o aumento populacional ser altruísta não é tão importante quanto ser egoísta, defender apenas a sua pessoa e a sua família, é uma garantia maior de sobrevivência, pois há uma maior competição, um aumento na dificuldade para obter os recursos necessários para sobreviver.

Por isso que vemos cada vez mais o incentivo de ações altruístas, conforme o aumento populacional ocorre a necessidade (individual) de ser egoísta para poder ter recursos e sobreviver, assim como a necessidade (social) de propagar o incentivo da distribuição destes (recursos) para a espécie sobreviver. Se ser altruísta é considerado uma virtude, então há um impulso para a pessoa realizar tal ação, mas não são todos que continuam, pois geneticamente não são todos que tem maior prazer em ajudar os outros (social) do que se realizar pessoalmente (individual).

Caio Mariani disse...

Penso que primeiramente todas as ações de qualquer individuo tem como escopo, fugir da dor ou/e encontrar o prazer.

Quando um individuo faz um ação pensando em eliminar o mal do outro, sem pensar em futuras consequências para ele, é porque este individuo ao acabar com o mal do outro acaba com o seu, e se ele não fizesse essa ação se sentiria mal com ele mesmo.

Logo, toda ação altruísta é egocentrica.